Nem todos que querem conseguem conhecer o país mais poderoso do mundo.
Veja os erros mais comuns de quem teve a entrada negada pelo consulado dos EUA
Ter um motivo claro e justificável para conhecer os Estados
Unidos é o primeiro critério que as autoridades do consulado norte-americano
levam em consideração na hora de conceder o visto de turista (também chamado de B2) aos brasileiros.
“Se a pessoa acabou de se formar na faculdade e o pai quer dar uma
viagem aos Estados Unidos para ir com as amigas, este é um motivo justificável.
Mas se você tem 25 anos e quer ir sozinho para a Disney é estranho porque não
condiz com que um ‘homem comum’ faria. Neste caso, eles podem não ver com bons
olhos”, explica Ingrid Baracchini, advogada especialista em casos de imigração,
de São Paulo.
A razão clara e justificável delimita a duração da viagem e
determina a quantidade de dinheiro que você precisa para passar esse
período fora do país, conforme explica a advogada. Quem deseja tirar um visto
de turista e alega querer passar cinco meses viajando pode ser barrado,
por exemplo. “Nem a Gisele Bundchen tira cinco meses de férias! Dar um
motivo injustificável é o primeiro erro das pessoas”, explica Ingrid.
Essa explicação toda é feita em um cadastro, que deve ser preenchido de
forma mais completa possível e sem deixar enganos. Por ser extenso, pode
ser cansativo, mas é fundamental a total atenção do solicitante neste momento.
Dinheiro importa
Condição financeira é outro item importante na lista do INA (Immigration
and Nationality Act), código de leis que rege a imigração e a liberação de
vistos aos Estados Unidos. É preciso ter condições de se manter durante o
período de férias. Neste caso, os jovens com menos de 21 anos podem receber o
visto mais facilmente, pois são dependentes financeiramente dos pais.
“Se for menor de idade, o pai ou a mãe pagam a viagem para a criança.
Pode até ser um presente de um tio, padrinho. Alguém arca com as despesas. Mas,
depois dos 21 anos, ou você tem condições próprias ou você não vai para os
Estados Unidos. Para os americanos é muito difícil uma pessoa com mais de
30 anos ter o pai como responsável pelas contas”, explica Ingrid.
Caso a pessoa não tenha a condição financeira, ela é vista como um imigrante
potencial e na situação econômica que o Brasil vive hoje, esta não é uma
condição tão difícil de se encaixar. “Se você não tem dinheiro, você não viaja
para o exterior. Ter uma condição financeira é muito importante”, completa.
O terceiro requisito solicitado pelas autoridades norte-americanas é a
prova de vínculo com o país. Não basta ser casado, ter filhos ou
mesmo um emprego fixo: o vínculo depende muito da idade do solicitante.
“Se eu tenho menos de 21 anos e estou na escola, a escola é meu
vínculo. Dos 30 aos 50 anos é bacana que a pessoa mostre como vínculo a
família, o trabalho, a faculdade, estágio. É importante ter um objetivo de
vida delimitado no Brasil, que faça a pessoa voltar. Se você não tiver
nada para a qual voltar, você pode ser considerado um imigrante potencial”,
reforça a advogada.
Cuidado com as incoerências
Escola e faculdade podem ser consideradas provas de vínculo com o país
de origem. Mas se a pessoa deseja passar seis meses no exterior para um curso
de inglês antes de terminar o curso superior, isso pode ser visto com maus
olhos pelo consulado. “Eles podem pensar: ‘por que ela não se forma primeiro e
depois faz o curso fora?’. Tudo que foge à regra do ‘homem comum’ tende
a ser negado”, diz Ingrid.
Da mesma forma, se a pessoa mentir durante a entrevista pode ser
barrada na chegada ao país. Se falar ao agente de imigração no Brasil que
pretende ir em julho a Miami com o pai e a mãe, não chegue um mês antes em
outra cidade e sem ninguém.
“Você vai ter a entrada negada e vai voltar ao Brasil. Não pode
mentir jamais. Nos Estados Unidos, se você mentir, pode ser considerado uma fraude.
Conte tudo, mesmo que você ache que não é necessário, porque para a imigração é
informação relevante”, reforça a advogada.
DICA: Faça o visto do seu filho enquanto ele é criança. Assim, o visto
será apenas renovado de 10 em 10 anos, sem necessidade de novas entrevistas.
Visto negado, quando posso tentar de novo?
Ter uma negativa no cadastro não significa, necessariamente, que você
jamais vai conseguir o visto. A negativa depende muito da situação de vida
daquela pessoa e, em alguns casos, será preciso um tempo, uma mudança nos
vínculos, antes de tentar de novo.
“Imagine uma jovem que saiu da faculdade agora e, sem muitos vínculos
no país, teve o pedido negado. É interessante que ela comece a trabalhar, fique
um ano na empresa, e com o dinheiro que ganhar do trabalho, viaje. Isso deixa o
processo dela mais sólido”, diz Ingrid.
Para outras situações, porém, o novo pedido pode ser feito no dia
seguinte à negativa. “Outra pessoa, que trabalha há cinco anos e teve o visto
negado pode ter dado alguma informação errada. Neste caso não tem problema
pedir no dia seguinte, e apresentar as informações de outra forma”, explica.
Sinais de atenção dos EUA
Mesmo com o visto, alguns comportamentos podem chamar a atenção dos
norte-americanos e barrar a entrada dos turistas no país. Atenção aos seguintes
cuidados:
Cidade desconhecida. Não é comum que o turista queira conhecer cidades
pouco turísticas, e sem uma justificativa clara, na primeira viagem aos Estados
Unidos. Os norte-americanos podem, então, pensar que o turista quer ir para
ficar.
Malas pesadas. Você declarou que vai ficar uma semana apenas, mas está
levando uma malas de 40 kg. Incoerências deste tipo não são bem vistas pelos
agentes nos aeroportos.
Ir e voltar. Ir e voltar. Com o visto de turista, não é comum que a
pessoa viaje, fique uma semana. Volte ao Brasil e, dali um mês, esteja de novo
nos Estados Unidos. As autoridades podem pensar: “que tipo de férias são
essas?”, e podem deportar logo na chegada ao país.
As cidades de Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro e Recife possuem
o consulado norte-americano e podem liberar os vistos para os turistas
brasileiros.
Atenção! O consulado norte-americano sugere que o visto seja solicitado
com bastante antecedência e a compra das passagens só deve ser feita depois que
tiver o passaporte com o visto emitido em mãos.
*Depoimento*
Fiz tudo certo, mas ainda assim me foi negado o visto
A viagem para a Disney estava praticamente pronta para a família de
Suzana*, com passagens compradas e hotéis reservados para março. No começo
desta semana, Suzana com o marido e as duas crianças foram pegos de surpresa
quando, durante a entrevista no consulado norte-americano em São Paulo, tiveram
a entrada negada ao país sob a justificativa da idade.
“Disseram para nós que temos uma idade comum de quem quer começar uma vida
fora do país e por isso tivemos o visto negado. Mas meu marido trabalha há 20
anos em uma empresa no Brasil e eu sou concursada do estado do Paraná. Levamos
todos os documentos para provar o vínculo, mas eles nem olharam. Foi uma
entrevista rápida, não durou nem cinco minutos. Perguntaram só o que a gente
fazia, para onde iríamos, o que iríamos fazer”, conta Suzana.
Suzana tem 37 anos e o marido 43, idade que normalmente não é
considerada a época para sair do país e começar uma nova vida. A justificativa
que ela encontrou foi com relação à situação econômica brasileira. “O contexto
do país não ajuda. A gente sabe que tem muitas pessoas que querem trabalhar
fora mesmo, porque aqui não tem oportunidade. Mas não era o nosso caso, só
queríamos levar as crianças para Disney”, diz.
Agora, a funcionária pública diz que quer dar um tempo e quem sabe
conhecer outros lugares antes de tentar novamente a ida aos EUA. “Gosto muito
de praia, quem sabe voltamos às praias do Brasil no nordeste.”
Fonte: Viverbem